Correio Central
Voltar Notícia publicada em 08/05/2024

Costa do Marfim e Gana enfrentam crise de cacau com preços abaixo do mercado e déficit de oferta

A má colheita na Costa do Marfim e em Gana, que produzem quase 60% do cacau mundial, resultou em um grande déficit global na temporada atual

Principais produtores de cacau, Costa do Marfim e Gana enfrentam uma das piores colheitas em décadas e não têm grãos disponíveis para cumprir entregas de até meio milhão de toneladas previamente vendidas a cerca de um quarto do preço mundial atual, informaram duas fontes do setor à Reuters.

Os grãos representam aproximadamente 20% da produção conjunta dos países, e agora a intenção é entregá-los na próxima temporada aos compradores, ao invés de durante a atual temporada, afirmaram as fontes.

Os grãos foram pré-vendidos por cerca de £ 2.000 (US$ 2.508,00) por tonelada métrica, enquanto os preços mundiais do cacau estão atualmente mais próximos de £8.000 por tonelada, o que significa que os produtores da África Ocidental não se beneficiarão totalmente dos preços em alta.

A má colheita na Costa do Marfim e em Gana, que produzem quase 60% do cacau mundial, resultou em um grande déficit global na temporada atual de 2023/24 (outubro/setembro), levando os preços mundiais a mais do que dobrarem de valor somente este ano.

As autoridades de cacau da Costa do Marfim e de Gana não responderam aos pedidos de comentário.

Preço ao Produtor
Os dois países pré-vendem a maior parte de seu cacau com um ano de antecedência. Eles então usam a média dessas vendas antecipadas para estabelecer um ‘preço ao produtor’ para a temporada seguinte.

A ideia é utilizar o preço ao produtor para proteger os agricultores dos preços mundiais voláteis, e embora possam perder nesta temporada, os agricultores deveriam teoricamente se beneficiar na próxima temporada de 2024/25.

Mas neste caso, os contratos prorrogados pesarão sobre o preço médio de venda para as safras da próxima temporada e assim diminuirão o preço que os agricultores recebem.

Atualmente, os agricultores de cacau na Costa do Marfim recebem 1.500 francos CFA (US$ 2,46) por quilo de seus grãos, enquanto em países como Camarões, onde o cacau é livremente negociado, estão recebendo  5.500 francos CFA, disseram fontes do setor.

A diferença de preço entre Gana e Camarões é similar.

Como resultado, muitos agricultores marfinenses e ganenses estão contrabandeando seus grãos para países onde conseguem mais dinheiro, uma tendência que provavelmente continuará na próxima temporada, disseram especialistas do setor, considerando que a diferença de preço é provável que permaneça significativa.

Duplo Impacto
Os agricultores da Costa do Marfim e de Gana enfrentam um duplo impacto.

Além de receberem preços relativamente baixos por seus grãos, suas colheitas também foram prejudicadas pelo clima adverso e doenças, limitando o que têm para vender, ao contrário dos concorrentes no restante da África e além.

Traders, corretores e analistas disseram que os agricultores marfinenses e ganenses provavelmente não investirão em suas lavouras podando e aplicando fertilizantes e pesticidas – práticas que poderiam resultar em rendimentos muito maiores já na próxima temporada.

“O problema é que os agricultores da Costa do Marfim e de Gana ainda não estão recebendo dinheiro suficiente para incentivá-los a investir em suas lavouras”, disse Steve Wateridge, da Tropical Research Services, um especialista mundial em cacau. “O ideal seria transmitir o sinal de preço mais cedo”, disse ele, referindo-se aos preços do mercado mundial.

Fonte: esm;mercado do cacau

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