Como mulher enganou o Exército em MS e recebeu R$ 3,7 milhões de pensão em 33 anos
A avó dedurou a falsaria. Descontente com o valor que a neta vinha lhe repassando, Conceição Galache procurou, em 2021, a Polícia Civil e a Administração Militar para informar que Ana Lucia Zarate não era filha de Vicente Zarate.
Uma mulher de 55 anos de idade enganou o Exército Brasileiro por 33 anos, recebendo indevidamente pensões militares, em um esquema planejado junto com sua avó.
De 1988 a 2022, Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, se passou por filha de Vicente Zarate, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) da Segunda Guerra Mundial, fraudando documentos para receber um benefício que totalizou milhões de reais. O caso permaneceu oculto até 2021, quando sua avó, Conceição Galache, insatisfeita com a divisão dos valores, denunciou a neta à Polícia Militar de Mato Grosso do Sul.
Após a morte do ex-combatente, Ana Lucia apresentou documentos falsos para solicitar a pensão, com apoio da avó, alterando seu nome para "Ana Lucia Zarate" e recebendo o benefício. Ao longo das décadas, a quantia mensal aumentou até atingir aproximadamente R$ 8 mil.
Em depoimentos, Conceição revelou que Ana Lucia era, na verdade, apenas sobrinha-neta de Vicente Zarate, o que a tornava inelegível para o benefício, reservado exclusivamente para cônjuges e filhos de militares falecidos.
Condenação
Em 2023, a Justiça Militar condenou Ana Lucia a três anos de prisão, determinando também a devolução dos valores fraudados, que, corrigidos, somam cerca de R$ 3,2 milhões. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Lucia admitiu durante os interrogatórios ter ciência da falsificação e usava a identidade de "Ana Lucia Zarate" exclusivamente em questões relacionadas à administração militar e à pensão.
Ana Lucia recorreu da decisão, sob a defesa da Defensoria Pública da União (DPU), alegando que não houve dolo, ou seja, intenção criminosa. O caso, atualmente, aguarda julgamento final no Superior Tribunal Militar (STM). Dois ministros já votaram a favor da manutenção da condenação, mas uma decisão definitiva foi adiada após o ministro Artur Vidigal pedir vistas do processo.
Em nota, a DPU declarou que acompanha Ana Lucia desde 2022 e entrou com recurso de apelação, sustentando a ausência de dolo e a falta de provas para a condenação.